sábado, 21 de maio de 2011

Enigma

   Há dias que não vou ao fundo do poço em que me banho. Meus sonhos agora deram de ser assim, como uma maçã podre. Um diabo esfumaça-se na sala com seu cheiro vermelho e só eu o sinto, e sua neblina irrita-me. Há meses nenhuma framboesa quente brota em meu rosto. Talvez por isso a sinto tão perto de mim, tão vermelha. Meus pêlos arrepiam-se, e eu toda sou calafrios, um ar quente. Meu silêncio está pesado. As palavras custam a sair de minha boca, esta caverna imóvel, cheia de mofo e que não vê luz há tempos. O ser me escapa pelos poros. Feito áporo percorre-me veias, camadas de pele, até achar escape. O enigma cava. Sai dos encanamentos e é odor do ralo. Ninguém o vê. Disfarçado entre as coisas do ar ou da casa, anda sozinho percorrendo ruas, vielas. Anda nos buracos, nas entranhas, nos córregos, perguntando sempre trouxestes a chave?

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