Sabiá com Trevas
Me abandonaram sobre as pedras infinitamente nu,
e meu canto.
Meu canto reboja.
Não tem margens com a palavra.
Sapo é nuvem neste invento.
Minha voz é úmida como restos de comida.
A hera veste meus princípios e meus óculos.
Só sei por emanações por aderência por incrustações.
Estava de pé quando/ minha boca se entreabriu./ Ouvi alguma coisa cair./ Um amor escorregou/ docemente/ raspando áspero/ do coração/ até o orifício
sábado, 14 de agosto de 2010
domingo, 8 de agosto de 2010
Sóis
Meu pai um dia me mostrou o sol. Um gigante que se ri do céu pra toda gente que quiser olhar. É o olho quente que espia o mundo. Meu pai disse que o sol é amarelo e grande, e que ninguém consegue fugir dele. Os pais sabem das coisas do céu. No céu tudo é redondo. O mundo fica no céu. Os pais são sóis redondos.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Mãos de Rendeira
Escrever poesia é um processo minuncioso, exige muita atenção e ouvidos aguçados para captar os sons do mundo, para caçar as palavras que estão levitando. Todas rolam num rio lento, inertes em si mesmas, esperam ser escolhidas. São feijões esperando as mãos calejadas das marias, grãos perdidos num labirinto infinito, esperam eternamente alguém com as mãos de rendeira que se habilite a costurar os retalhos.
O enigma
nas mãos da rendeira
tece
um amor de teia.
O enigma
nas mãos da rendeira
tece
um amor de teia.
domingo, 1 de agosto de 2010
REMENDO
retalhos
são panos
falhos
Um poema costurado a outras palavrinhas.
Quem declara seu amor na noite fria num dia de calor calaria?
Num dia de clamor, calmaria,
num dia de pavor, palavrinha
numa nuvem fada madrinha
na estrela de condão, varinha.
Poema gentilmente cedido por Arnaldo Antunes (gentilmente, o primeiro verso foi transcrito de dos livros do Arnaldo, mas aspas iam estragar a costura.)
são panos
falhos
Um poema costurado a outras palavrinhas.
Quem declara seu amor na noite fria num dia de calor calaria?
Num dia de clamor, calmaria,
num dia de pavor, palavrinha
numa nuvem fada madrinha
na estrela de condão, varinha.
Poema gentilmente cedido por Arnaldo Antunes (gentilmente, o primeiro verso foi transcrito de dos livros do Arnaldo, mas aspas iam estragar a costura.)
LOTADO
Mundo mundo
barulhento
vasto e imundo
turbulento
Cheio de penas
de lazarentos
de moças tolas
de monumentos
Não há vagas
barulhento
vasto e imundo
turbulento
Cheio de penas
de lazarentos
de moças tolas
de monumentos
Não há vagas
Comecemos pelo começo
No início era o começo da raiz do tempo. O tempo é invenção recente. O tempo tic-tac no ouvido da gente. Mas antes do tempo existia silêncio.
O silêncio não é mudo
O silêncio não se cala
O silêncio fala tudo
O silêncio fala mudo
Ouviríamos o que ele diz
se não usássemos escudo
Se não usássemos escudo,
ouviríamos o que ele diz.
O silêncio fala mudo
O silêncio fala tudo
O silêncio não se cala
O silêncio não é mudo.
O silêncio não é mudo
O silêncio não se cala
O silêncio fala tudo
O silêncio fala mudo
Ouviríamos o que ele diz
se não usássemos escudo
Se não usássemos escudo,
ouviríamos o que ele diz.
O silêncio fala mudo
O silêncio fala tudo
O silêncio não se cala
O silêncio não é mudo.
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