segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ode descontínua e remota para flauta e oboé

 Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé - De Ariana para Dionísio - É um CD gravado por Zeca Baleiro em 2003, em que o artista maranhense em parceria com a poeta Hilda Hilst musica parte do livro Júbilo Memória Noviciado da Paixão. Há dois anos tento comprar esse disco, mas ele é tão bom que quase que não existe.


Canção IV - Canto de Ariana



Canção V



Canção IX






sábado, 5 de fevereiro de 2011

Encontraria a Maga?

  Desde que ouvi estas palavras escorregarem de uma boca durante o meu primeiro ano do ensino médio, eu busquei a Maga, e sentir um beijo na boca da Maga. Procurei-a por todas as ruas de Paris, por todas as praças, no idioma e na Argentina, e acabei por descobrir que eu mesma sou a Maga, que meu nome pode ser Lucía, pode ser Iara. Minha boca está dentro da Maga, e lá eu me encontro inteira. Eu sou todas as palavras tolas e sem sentido que um dia escorregaram de sua boca.

                                  

                                  7


Toco a tua boca, com um dedo toco o contorno da tua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a tua boca se entreabrisse e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e desenha no rosto, uma boca eleita entre todas, com soberana liberdade eleita por mim para desenhá-la com minha mão em teu rosto e que por acaso, que não procuro compreender, coincide exatamente com a tua boca que sorri debaixo daquela que a minha mão te desenha.
   Tu me olhas, de perto tu me olhas, cada vez mais de perto e, então, brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, aproximam-se, sobrepõem-se e os cíclopes se olham, respirando indistintas, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se nos teus cabelos, acariciar lentamente a profundidade do teu cabelo enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragrância obscura. E, se nos mordemos, a dor é doce; e, se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu te sinto tremular contra mim como uma lua na água.


                                                                                        (O Jogo da Amarelinha - Júlio Cortázar)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011