sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Carta ao menino Manoel


    Caro Menino do mato,

    É bobeira minha que eu não lhe conheço com os olhos, mas sua palavra-menina brinca no caminho que faz do meu olho até o coração. Você, que é menino do mato, que aperta parafuso no vento, que deixa os caracóis e as lesmas gosmarem umedecendo sua boca de dizer meninices, me faz sorriso na boca sempre que me enxergo, de alguma forma, correndo nos pés de um menino qualquer, descalço, na terra, molhando a poeira no rio, gritando em língua de sapo ou de ave, dizendo em língua de avó, desinventando coisas. Assim, a lesma gosma no meu olho, e o umedece.
    Não há coisa que mais me alegra que saber mais de ignorâncias, saber mais de meninices, que não saber quase tudo.
    Sobre nadas temos profundidades.
    Para mim, a pureza do cisco também dá alarme.

    masco 
          as letras
    monto
          monstros
    de ostras
          e outros 
    planetas


    P.s.: A onça comeu-me também.