O prato que se come cru.
Não gosto de sangue, no entanto ele insiste em me
habitar e caminhar em minhas trilhas.
É cru e eu o como amargamente. O sangue escorre.
É bom quando se tem anemia.
Aliás é uma doença típica de alguém que não suporta
sangue, não suporta ser gente.
Mas agora me sinto viva. Todas as minhas metáforas
despertaram. E quando a inveja desperta, passo a habitar no outro e sentir a
outra face do mesmo movimento que nele ocorre, é algo de simbiótico.
E me pergunto: o que é que eu fiz para não merecer
isso?
Talvez não seja a hora. Não desejo o mal de ninguém,
mas sinto um minuto, talvez dois de uma raiva metabólica... ela é natural. Como
dormir é natural. Como a poesia é natural.
Estou muito viva.
Meus pêlos arrepiam-se e o meu corpo todo é tomado de
uma agitação:
Por que não eu?
Porque todos os sonhos são visões e sua paisagem ainda
é essa, árida. Ainda não pode se imaginar. Porque seus deleites estão bem mais
próximos e não podem ser sintetizados do outro lado do mundo. Porque seus
dogmas ainda não foram desfeitos. Porque é preciso ser um campo arado para que
as raízes brotem. É preciso que haja fungos. Rizóides. Estar tomado por
fractais e pequenos poemas.
É preciso ser doce.
Mas a minha seiva anda espessa. Talvez por não
compreendê-la, minha boca se amargue um pouco.
Já são quase dois minutos.
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