terça-feira, 7 de agosto de 2012

Historinhas do eu no meio (pode mudar se não gostar)

   Uma vez me contaram essa história. Fumávamos um cigarro. Mentíamos que fumávamos para ver a fumaça subir lentamente em bolas. Uma vez era uma casa muito muito distante e eu forjava o momento da história. Um menino desses bem magros, que têm uma cor perambulante entre o amarelo-febre e o ocre, de uma cor crua, começou a me contar de uma vez que ele pedalou tanto que a bicicleta era ele próprio. Magrinho e munido de besourinhos coçadores, passeou até o Japão e comeu sushi com as mãos. Uma vez ele andou de avião, mas não foi nessa do Japão, porque o Japão é bem fácil: ele cavou para sempre e chegou ao outro lado. Uma vez ele sobreviveu a um deserto comendo miojo e chá verde. Uma vez o banheiro masculino e o feminino eram casebres horrendos. Uma vez, numa estrada amarela, ele conheceu Mundana, Sem-freio e Presbítero, que era só um epíteto. Uma vez uma curandeira fez magia com Toddy. Ela salvou sua vida. Uma vez o mundo girou sete vezes com uma poção indígena que lhe deram. Era algo com limão, gelo, açúcar... Jogou uma partida de  basquete ao final. Uma vez ele teve amigo nunca visto. Uma vez trajado de joão-de-barro, construiu casa de dois andares nos próprios pés. Cuspe e areia dão bastante liga. Uma vez a mãe e o pai brigavam e ele entrou numa cápsula que levava à lua. Ainda bem. Uma vez ele foi comer um bacalhau na Europa e se apaixonou pela palavra quase idioma, quase perfeita, que saia lentamente da boca dele e da outra boca e que se beijavam em águas do São Francisco e do Tejo. Que se entrecortavam e se trançavam formando juntas uma palavra banana caramelizada. Uma palavra delícia. Desde então todas as suas palavras são lentas e macias. Uma vez uma nuvem branquinha e lenta de palavras. As palavras amor. 

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