quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

De máquinas


(Vênus fala ao caminhante)

Abriu-se a máquina do mundo
e tão deselegante
revelou:

o som saiu 
depressa
e se calou

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Crucigramma





Cruzei a palavra na calma
Cozi o sussurro na cama
As letrinhas na palma
da linha-de-maria
na minha mão

destinam

a cruz que
se carrega
a tina em que
se lava
a onda que se leva
e entorna em mar
onde derramo

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Notícia




                                   Visto
                                   no poente:
              Carmem
                                   poema
                                   vestido de
                                   carne
     
               Carmem
                                    O seio
                                    boiando
                                    no cerne

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Boa tarde. Te amo.


Boa tarde. Te amo. Foda-se. Ser educado ao ponto de dizer “tudo bem?” não é o mesmo que ligar, querer voltar correndo. Quem está com você? O que você comeu? Tem tomado os remédios? Foda-se. Se quiser tomar toma, se não quiser, foda-se. Não gostou da salada? Faça a sua ou morra. Não gostou do meu vestido? Achou que pareço grávida? Foda-se. Tem alguém querendo a mesma tatuagem? Foda-se.
Vamos tentar fazer uma previsão: vai se foder ou morrer aos 51. Fodo-me. Não tenho emprego. Gosto de comprar livros. Fodo-me. Estudar 4 anos para ter um salário de merda. Não faço as unhas. Não perco peso. O barco nunca passa. Cavalo branco. Nunca nasce um filhote. Foda-se.
Vai acidentar-se até que morra. Sete ou oito vezes, já foi metade. Quem se importa? Não uso drogas, mal bebo, não canto músicas, não dou pra todo mundo e tem sempre alguém que faça isso por mim. Por que é que sou uma grande babá mal remunerada? Boa tarde, senhores. Vou dormir quando eu quiser.
Buzinam na rua. Gritam. Deixam cachorros soltos. Ateiam fogo nas casas. Matam por nada. Roubam animal de estimação.
Mais tarde ligo pra saber se está tudo bem. Se não estiver, continuo viva. Ainda quero a tatuagem e ser poeta. Continuo viva. Ainda como, bebo água, aspartame. Mas dá câncer. Não me importa.